Parlamento comemora adesão ao Conselho da Europa com buffet de luxo
A Assembleia da República (AR) comemora, depois de amanhã, os 30 anos de adesão de Portugal ao Conselho da Europa com uma cerimónia quase privada: não vêm nenhum dos altos dirigentes da mais antiga organização política do continente europeu, nem qualquer convidado dos 46 países que a integram. Apenas 50 pessoas, todas portuguesas, ligadas ao Parlamento, ao Conselho da Europa ou, de alguma forma, à data histórica que já se cumpriu a 22 de Setembro.
Mas a festa está garantida.
Depois de uma sessão comemorativa, cujo programa não está divulgado na página oficial da AR (ao contrário do que acontece com todos os outros eventos promovidos pelo Parlamento), será servido um almoço de luxo, que custará 147,33 euros por pessoa. Mais IVA. Muito mais que os 50 euros cobrados, em ocasiões especiais, pela empresa que gere o restaurante do edifício novo da AR.
É quanto vale a “experiência gastronómica” proporcionada pelo chef Luís Baena, um dos mais premiados cozinheiros portugueses a nível internacional e um velho “amigo” de Jaime Gama, responsável por inúmeros serviços de catering para o Protocolo português, quando o actual presidente da AR era ministro dos Negócios Estrangeiros.
A efeméride está discretamente assinalada no site do Parlamento na rubrica Agenda do Presidente. Como se se tratasse de uma cerimónia externa à AR, quando na verdade é uma iniciativa organizada pelo próprio presidente, Jaime Gama, e que decorre ali mesmo, no Palácio de São Bento.
Não há informação complementar nem qualquer comunicado à imprensa. Os grupos parlamentares não dispõem de informação sobre o assunto. Nem os membros do conselho de administração, responsáveis pelos dinheiros do Parlamento.
Em declarações ao PÚBLICO, a secretária-geral da AR, Adelina Sá Carvalho, rejeita o carácter restrito das comemorações: “Houve a preocupação de convidar o maior número possível de pessoas, foram enviados cerca de uma centena de convites.” No entanto, cerca de metade ficaram sem resposta ou tiveram resposta negativa. Como aconteceu com o do presidente da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa ou o do secretário-geral da organização.
Ontem apenas estavam confirmadas 46 presenças.
“Experiência gastronómica”
Assumidamente, o ponto alto das comemorações é o almoço volante que se seguem às intervenções. Adelina Sá Carvalho disse mesmo ao PÚBLICO que lamenta não haver mais confirmações: “Temos pena que não haja mais pessoas a usufruir desta experiência gastronómica [que será proporcionada pelo chef Luís Baena]”.
O cozinheiro que integrou, por exemplo, a equipa que assegurou o catering para os 4000 convidados da cerimónia protocolar de transferência de Hong Kong à China, em
1997, foi convidado directamente pela secretaria-geral da AR para apresentar uma proposta de serviço para um número inicial de 100 pessoas. Foi o que fez: sugeriu
um buffet que agradou aos anfitriões por um preço considerado “adequado” para o serviço: 147,33 euros por pessoa, mais IVA.
O preço total apresentado ascendia a 16.500 euros, já com IVA. O que obrigaria a uma aprovação pelo Conselho de Administração da AR, que se reúne na véspera do evento. Mas como o valor real ficará abaixo dos 12.500 euros, devido ao menor número de convidados, essa formalidade fica dispensada.
A ausência de consulta a três empresas do mercado também não levanta qualquer problema jurídico, garante Adelina Sá Carvalho. “Não é matéria sujeita a consultas, porque não existe um caderno de encargos”, frisa. “É como comprar um quadro”, compara: “Se quero aquele quadro, não peço preços a artistas diferentes.” De facto, a arte culinária de Baena fica patente no seu curriculum, onde se assinala ter já sido chefe executivo em hotéis de cinco estrelas de marcas como Hilton, Meridien, Mariott, Westin e Ceaser Park, bem como em luxuosos cruzeiros da companhia Fearnlei & Eager e V. Ships.
Num tom modesto, Luís Baena desvaloriza a escolha que recaiu sobre si. “Não fui contactado a nível pessoal, foi através da Quinta de Catralvos, para a qual trabalho”, afirmou ao PÚBLICO, frisando desconhecer o valor envolvido. O que rejeita é ser amigo do presidente da AR: “Nunca tive nenhum contacto pessoal com Jaime Gama, sempre que trabalhei para o Protocolo de Estado falava com uma senhora responsável pelas contratações.”
Adelina Sá Carvalho reconhece que não é hábito da AR fazer este tipo de banquetes. “Usamos normalmente a empresa do restaurante do edifício novo”, afirma. Uma empresa que, sabe o PÚBLICO, presta este tipo de serviços por preços que oscilam entre os 30 e os 40 euros por pessoa. Excepcionalmente, para serviços especiais, pode atingir os 50 euros por convidado. “Mas de vez em quando gostamos de convidar chefes portugueses, para divulgação do seu trabalho e da gastronomia portuguesa”, afirma Adelina Sá Carvalho. E garante: “Tencionamos voltar a fazê-lo.”
Mas a festa está garantida.
Depois de uma sessão comemorativa, cujo programa não está divulgado na página oficial da AR (ao contrário do que acontece com todos os outros eventos promovidos pelo Parlamento), será servido um almoço de luxo, que custará 147,33 euros por pessoa. Mais IVA. Muito mais que os 50 euros cobrados, em ocasiões especiais, pela empresa que gere o restaurante do edifício novo da AR.
É quanto vale a “experiência gastronómica” proporcionada pelo chef Luís Baena, um dos mais premiados cozinheiros portugueses a nível internacional e um velho “amigo” de Jaime Gama, responsável por inúmeros serviços de catering para o Protocolo português, quando o actual presidente da AR era ministro dos Negócios Estrangeiros.
A efeméride está discretamente assinalada no site do Parlamento na rubrica Agenda do Presidente. Como se se tratasse de uma cerimónia externa à AR, quando na verdade é uma iniciativa organizada pelo próprio presidente, Jaime Gama, e que decorre ali mesmo, no Palácio de São Bento.
Não há informação complementar nem qualquer comunicado à imprensa. Os grupos parlamentares não dispõem de informação sobre o assunto. Nem os membros do conselho de administração, responsáveis pelos dinheiros do Parlamento.
Em declarações ao PÚBLICO, a secretária-geral da AR, Adelina Sá Carvalho, rejeita o carácter restrito das comemorações: “Houve a preocupação de convidar o maior número possível de pessoas, foram enviados cerca de uma centena de convites.” No entanto, cerca de metade ficaram sem resposta ou tiveram resposta negativa. Como aconteceu com o do presidente da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa ou o do secretário-geral da organização.
Ontem apenas estavam confirmadas 46 presenças.
“Experiência gastronómica”
Assumidamente, o ponto alto das comemorações é o almoço volante que se seguem às intervenções. Adelina Sá Carvalho disse mesmo ao PÚBLICO que lamenta não haver mais confirmações: “Temos pena que não haja mais pessoas a usufruir desta experiência gastronómica [que será proporcionada pelo chef Luís Baena]”.
O cozinheiro que integrou, por exemplo, a equipa que assegurou o catering para os 4000 convidados da cerimónia protocolar de transferência de Hong Kong à China, em
1997, foi convidado directamente pela secretaria-geral da AR para apresentar uma proposta de serviço para um número inicial de 100 pessoas. Foi o que fez: sugeriu
um buffet que agradou aos anfitriões por um preço considerado “adequado” para o serviço: 147,33 euros por pessoa, mais IVA.
O preço total apresentado ascendia a 16.500 euros, já com IVA. O que obrigaria a uma aprovação pelo Conselho de Administração da AR, que se reúne na véspera do evento. Mas como o valor real ficará abaixo dos 12.500 euros, devido ao menor número de convidados, essa formalidade fica dispensada.
A ausência de consulta a três empresas do mercado também não levanta qualquer problema jurídico, garante Adelina Sá Carvalho. “Não é matéria sujeita a consultas, porque não existe um caderno de encargos”, frisa. “É como comprar um quadro”, compara: “Se quero aquele quadro, não peço preços a artistas diferentes.” De facto, a arte culinária de Baena fica patente no seu curriculum, onde se assinala ter já sido chefe executivo em hotéis de cinco estrelas de marcas como Hilton, Meridien, Mariott, Westin e Ceaser Park, bem como em luxuosos cruzeiros da companhia Fearnlei & Eager e V. Ships.
Num tom modesto, Luís Baena desvaloriza a escolha que recaiu sobre si. “Não fui contactado a nível pessoal, foi através da Quinta de Catralvos, para a qual trabalho”, afirmou ao PÚBLICO, frisando desconhecer o valor envolvido. O que rejeita é ser amigo do presidente da AR: “Nunca tive nenhum contacto pessoal com Jaime Gama, sempre que trabalhei para o Protocolo de Estado falava com uma senhora responsável pelas contratações.”
Adelina Sá Carvalho reconhece que não é hábito da AR fazer este tipo de banquetes. “Usamos normalmente a empresa do restaurante do edifício novo”, afirma. Uma empresa que, sabe o PÚBLICO, presta este tipo de serviços por preços que oscilam entre os 30 e os 40 euros por pessoa. Excepcionalmente, para serviços especiais, pode atingir os 50 euros por convidado. “Mas de vez em quando gostamos de convidar chefes portugueses, para divulgação do seu trabalho e da gastronomia portuguesa”, afirma Adelina Sá Carvalho. E garante: “Tencionamos voltar a fazê-lo.”
PÚBLICO•TERÇA-FEIRA, 10 OUTUBRO 2006 -
LEONETE BOTELHO
1 Comments:
Muito pertinente este artigo...Só me merece um comentário!
Este país é o degredo!!!
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